por Rodrigo Costa, sócio-diretor & Head de Digital Business da Kron Digital
Há muitas lições importantes que podemos tirar das jornadas de transformação digital que as empresas têm adotado nos últimos anos. Mas talvez, o aspecto mais crucial que podemos depreender desse movimento é que não existe um caminho único para todos, e muito menos uma trajetória linear. Na realidade, a transformação digital se trata da busca de soluções para problemas novos, e cujas respostas nem sempre são tão óbvias.
Neste sentido, a Inteligência Artificial (IA) parece convergir para a tecnologia que dará suporte a essas novas demandas. E iniciativas como o ChatGPT nos mostram que o caminho é esse. A IA se tornou um fator dominante nas estratégias de transformação digital de todas as organizações. Mas, embora ofereça um leque enorme de oportunidades, na maior parte das empresas essa tecnologia foi reduzida a um sistema de manipulação de dados e o seu o uso não tem sido nem artificial, e inteligente.
Na prática, tecnologias de Inteligência Artificial têm integrado ferramentas de análise estatística, apoiadas por um conjunto crescente de técnicas de aprendizado de máquina. Principalmente, isso significa extrair dados para melhorar como a organização pode aprender com experiências passadas, reconhecer padrões repetidos para automatizar tarefas comuns e correlacionar diferentes sinais nesses dados para prever eventos futuros.
Ainda que essa perspectiva da IA seja extremamente útil, é fato de que as tecnologias baseadas em Inteligência Artificial prometiam uma disrupção muito mais significativa.
Da trituração de números ao ChatGPT
Na década de 1950, o Teste de Turing, criado pelo cientista Alan Turing, determinava que se um ser humano consegue conversar com uma máquina por cinco minutos sem perceber que não é humana, teoricamente estaríamos de frente a uma tecnologia bastante inteligente.
É bem verdade que durante as décadas de 80 e 90 o desenvolvimento de tecnologias voltadas à Inteligência Artificial caminhou muito pouco. Nós veríamos um salto consistente somente com o Watson, da IBM, em 2011. E entre inúmeros exemplos na sequência, de aplicações de máquinas para jogos, e robôs derrotando humanos no xadrez, chegamos ao ChatGPT, que nos levou um passo adiante, e a duas conclusões importantes.
Em primeiro lugar, o ChatGPT deixa claro para um público amplo que agora superamos o Teste de Turing estabelecido há 70 anos. A tecnologia fornece acesso amplo a uma interface simples, que demonstra capacidade de produzir respostas não apenas bem construídas e verossímeis, mas também com tom humano.
Em segundo lugar, o ChatGPT desvia a atenção de soluções mecânicas para conjuntos de problemas restritos com foco em eficiência e automação, em direção à promessa de uma IA que impulsiona a criatividade para ampliar o que é possível.
Quer se trate de uma questão de estratégia de negócio ou de um pedido de geração de software para implementar uma resposta a uma necessidade definida, o ChatGPT consegue produzir uma solução nova e significativa. E esse nível de sofisticação de IA agora está acessível a todos.
Em resumo, a promessa da IA deu mais um grande passo à frente com o ChatGPT. Suas respostas semelhantes às humanas e ampla base de conhecimento impressionaram muitas pessoas.
No entanto, seu lançamento tem implicações mais significativas para a jornada de transformação digital de uma organização: nos ajuda a reimaginar um futuro digital além dos limites de nossas formas atuais de trabalho. Além disso, esse futuro só será concretizado se enfrentarmos os desafios que o ChatGPT coloca no nosso caminho – tanto operacionais, quanto éticos. E isso mostra a todos nós que a disrupção digital não só vai apresentar problemas que ainda não têm resposta, como também traz perguntas que nós, ainda, não sabemos responder.